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Coluna da Marta

Marta Schlichting

Onde andam os homens?

Outro dia acompanhei um debate – dentro da segunda edição da Feira do Livro Reconstrói RS, no Instituto Ling, em Porto Alegre – que reforçou algumas questões que têm me inquietado. A conversa tinha como ponto de partida a pergunta “Por que Ler em Grupo?”. Lá estavam três mulheres que transitam com desenvoltura nesta área: a jornalista e escritora Fernanda Pandolfi – responsável pela curadoria de cinco clubes do livro – a empreendedora e sócia da TAG Experiências Literárias, Laura Zanazzi, e a psicanalista e escritora Diana Corso.

Elas iniciaram lembrando que os clubes do livro explodiram na pandemia, justamente pela necessidade de conexão com outras pessoas. Foi nesta época em que a TAG cresceu muito como um clube de assinaturas que, atualmente, conta com 40 mil assinantes. Detalhe importante: 75% deste público é feminino. Nos clubes que Fernanda coordena, 100% das participantes são mulheres. E aí vem a pergunta: onde andam os homens?

Talvez eles não imaginem que fazer parte de um clube do livro vai muito além de opinar sobre uma obra. É um exercício potente de escuta, capaz de ampliar nossa visão de mundo. E, vamos combinar, nestes tempos em que todos têm muito a dizer, mas pouquíssima paciência para ouvir e prestar atenção no outro, a experiência e o aprendizado, por si só, já valem muito. Eu participo de um dos clubes da Fe Pandolfi, criado com o apoio visionário da marca de roupas Was. E digo visionário porque só agora, mais de dois anos depois, a queridinha da moda internacional, a  Miu-Miu,  decidiu lançar o seu clube. Pois é, a gaúcha Lu Ceccon, proprietária da Was, entendeu muito mais rápido que as pessoas não querem apenas consumir, elas querem pertencer a uma comunidade. E que comunidade! Nos encontros mensais que temos, costumo dizer que os livros “crescem” nos debates. Não é incomum chegarmos indiferentes com a leitura do mês e, a partir dos diversos pontos de vista, percebermos que, sim, o livro é mesmo interessante, “eu é que não tinha me dado conta”. Pois é, os autores deviam nos agradecer.

Voltamos à pergunta que não quer calar: por que os homens não se interessam na mesma medida por coletivos, rodas de conversa e diferentes espaços onde podemos falar, ouvir, trocar ideias, descontruir o que não cabe mais e moldar novas realidades? A clássica desigualdade de gênero acabou por impulsionar as mulheres para além dos limites domésticos  e dessas novas descobertas saímos fortalecidas para lutar (sim, é uma luta!) pela tão necessária igualdade, ainda que a gente saiba que esse caminho é longo. Com perdão pela generalização, mas os homens estão acomodados, preferindo o velho churrasco e futebol com os amigos? É preciso que eles entendam que não queremos evoluir sozinhas, ao contrário, nos interessa, e muito, trocar opiniões, construir relações saudáveis, respeitosas e compreensivas.  Só que pra isso acontecer, é preciso estar aberto e ter a coragem de se perguntar “por que não?”

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