A gente costuma brincar que no segundo domingo de maio conhecemos as mães de todos os amigos nas redes sociais, por conta das inúmeras fotos e mensagens carinhosas, merecidíssimas, aliás, e talvez sempre insuficientes para agradecer nossas queridas progenitoras. A coluna de hoje é também uma homenagem, mas uma homenagem às mães reais, diferentes das instagramáveis e romantizadas. Felizmente, de alguns anos pra cá, o modelo de mãe multitarefa – as guerreiras que cumprem a qualquer custo o papel que a sociedade patriarcal lhes impôs – está sendo questionado. Mães já não querem ser elogiadas como guerreiras, porque isso equivale a dizer que são capazes de suportar tudo; mães querem, e merecem, ser felizes no dia a dia, o que implica em uma mudança comportamental dos filhos, maridos, empresas, estado e toda sociedade. Essa mulher que cuida, administra a casa, trabalha (também) fora, leva os filhos na escola, ao médico, ajuda nos deveres de casa e um sem fim de atividades, está exausta. Conforme a pesquisa De Mãe em Mãe (USP), mais de 90% delas apresentam esgotamento mental.
Além dos presentes, abraços e declarações amorosas neste domingo das mães, é oportuno que a gente aproveite a data para refletir sobre o nosso papel na construção de uma realidade mais justa e acolhedora para essas mulheres. Da colaboração mais simples – como lavar uma louça, fazer o supermercado, passar aspirador na casa – até aquelas que visam a reconfiguração estrutural e que passam por políticas públicas, engajamento das empresas e instituições, tudo é necessário e urgente. Se, por um lado, a participação masculina nas responsabilidades domésticas e criação dos filhos avançou nas últimas décadas, a divisão de atribuições ainda está longe do ideal. Segundo o IBGE, as mães trabalham 9,6 horas por semana a mais que os pais em atividades domésticas e no cuidado de familiares. Ainda de acordo com o Instituto, desde cedo as meninas já dedicam mais tempo ao trabalho doméstico do que os meninos, o que comprova o quanto nossa sociedade carrega traços do machismo estrutural-histórico.
E o que dizer das mães solo que enfrentam realidades ainda mais adversas, como grandes dificuldades financeiras, ausência de redes de apoio e preconceito social? Pesquisas recentes apontam dados preocupantes, como os que destaco abaixo:
- O Brasil tem mais de 11 milhões de mães que criam os filhos sozinhas, sem ajuda paterna (Instituto Brasileiro de Economia – FGV).
- O número de mães solo aumentou em 17,8% na última década (Instituto Brasileiro de Economia – FGV).
- 55% das mães brasileiras são viúvas, divorciadas ou solteiras (Datafolha).
- Todos os dias, 470 crianças nascidas no Brasil são registradas sem o nome do pai (Viviana Santiago – OXFAM Brasil).
- 54% das mães solo possuem apenas o ensino fundamental e só 14% possuem ensino superior (FGV).
- 37% das mães solo estão fora da força de trabalho ou desempregadas e, quando no mercado, o salário é 39% menor do que dos pais casados (Datafolha).
Acho que já posso “pedir música no Fantástico” por novamente trazer uma pauta complexa com muitas outras camadas a serem debatidas, como as questões de raça e classe social que impactam fortemente a maternidade. Mas, se depois dessa breve leitura, você reservar uns minutos para pensar no que pode fazer para melhorar a qualidade de vida das nossas mães, já é um bom começo.
Um feliz domingo a todas e todos!