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O que você vê, o que eu vejo – Isabel Scheid

Durante os duros dias da pandemia, quando acompanhávamos lives sobre os mais variados temas, aprendi a expressão “cegueira botânica”. Cegueira botânica é a incapacidde de perceber ou apreciar plantas no seu ambiente natural, por desconhecimento, desatenção, ou por estilo de vida. Andamos por aí, e vemos as árvores na rua. Ou não vemos. O que você vê? A bela rua arborizada, o conforto da sombra no verão, a beleza do outono? As folhas caídas, as raízes como obstáculos na calçada? Pois é, não vemos o mesmo frente à mesma imagem.

Um quadro de Mondrian – o que o galerista vê? O valor da obra no mercado de arte. O que o crítico de arte vê? Uma representação do universo, talvez. Eu vejo uma porção de quadrinhos coloridos. Um mosaico, quase. Bonito, mas só isso.

E assim seguimos. Alguns vêem nas construções de décadas passadas uma parte da história da cidade, outros vêem ali a oportunidade de construir prédios modernosos. O que você vê, o que eu vejo? Será que você vê o futuro, e eu vejo o passado?

Eu vejo uma área de terra desocupada. Você vê um parque urbano, campo, mata, paisagem, crianças criançando, velhos chimarreando, jovens namorando. Ou vice-versa. Velhos namorando. Tanto faz. Você vê um espaço vivamente ocupado. Eu vejo um grande terreno baldio, e inútil. Não vemos, obrigatoriamente, o mesmo.

Alguns vêem na invasão e na depredação do patrimônio público uma forma de defender a democracia. Outros reconhecem aí o puro vandalismo. Temos olhares diferentes para um mesmo fato. Nem sempre isso é irrelevante.

Dia desses, amigos reunidos, deparamo-nos com uma foto preto-e-branco. No primeiro plano, antigas máquinas fotográficas, velhos projetores de slides, de filmes. No segundo plano, bem ao fundo, dois ou três carros estacionados. Logo pensei em um brique, ao ar livre. A atenção da maioria voltou-se para os carros.  Palpite daqui, idéia de lá, passaram a discutir que carros eram aqueles. Marca? Modelo? Seriam novos? Seria essa uma foto de tempos passados, com carros mais velhos, fora de linha? E eu vi o equipamento fotográfico. Voltei no tempo. Lembrei do lambe-lambe na praça da minha cidade natal. Reconheci a Instamatic, que tanto sucesso fez por simples e acessível. Lembrei dos filmes em rolo, e da expectativa de ver as fotos reveladas em papel. Busquei ali uma Asahi Pentax, que foi minha primeira máquina automática. Reconheci, lá no fundo, um projetor de slides parecido com aquele que reunia amigos para ver as fotos das festas e viagens da turma. E então. O que você vê? O quê eu vejo?

Foto da Carine Saez

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