Começo a primeira coluna de 2025 com uma pergunta: na virada do ano o que você desejou aos seus amigos e familiares? É óbvio que a resposta são os melhores e mais sinceros votos de saúde, paz, amor, prosperidade e por aí vai. Quem não desejou um ano novo mais amigável, justo e fraterno? Pois é, parece que nem todos.
Na primeira semana de 2025, o CEO da Meta – controladora das plataformas Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads, Mark Zuckerberg – anunciou o fim do programa de checagem de fatos que verifica a veracidade de informações que circulam nas redes. Mais do que isso: em nome da suposta liberdade de expressão, Zuckerberg declarou que a Meta irá “flexibilizar” o debate sobre temas sensíveis como racismo, misoginia, homofobia, perseguição religiosa, proteção às crianças, xenofobia, entre outros. Em resumo, o bilionário todo-poderoso pretende liberar geral. Com isso, os inúmeros esforços globais para promover um espaço digital mais seguro, inclusivo e democrático serão duramente enfraquecidos e vamos retroceder vários quilômetros nesta caminhada. Será mesmo que a desinformação e o discurso de ódio – combatidos à exaustão nos últimos anos – irão assombrar o nosso recém-nascido 2025? Não, caro leitor, não é exagero colocar essa pauta no centro das discussões. Se nas plataformas poderemos destilar venenos e preconceitos, muito provavelmente esta violência irá transbordar para fora das redes, porque não há mais dúvidas que vida digital e vida real se confundem.
Neste amplo contexto, é fundamental destacar os impactos de um ambiente hostil, especialmente para as mulheres. Conforme a ONG Think Olga – laboratório de inovação social que educa e cria soluções para a desigualdade de gênero – a misoginia é um dos discursos de ódio que mais cresceu nos últimos anos, segundo levantamentos do Observatório Nacional dos Direitos Humanos e da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da SaferNet. São os casos de assédios, ameaças, pornografia, ofensas e até movimentos como o dos red pills, aqueles que defendem a masculinidade dominante e a retaliação às mulheres. Sim, para quem desconhece o assunto, até isso existe. Em paralelo, a exploração sexual infantil na Internet, que atinge milhares de meninas, bateu recorde em 2023 com mais de 71 mil queixas.
Imagino que, para qualquer pessoa de bom senso, a partir deste pequeno recorte não haja mais dúvidas sobre a urgência da regulamentação das redes e do papel de cada um de nós neste esforço. Usuários que praticam crimes e plataformas que permitem ameaças virtuais – que vão do estupro ao assassinato – obviamente precisam ser responsabilizados. Para além das questões que tocam a condição feminina, outras mudanças anunciadas pela Meta causam perplexidade, como a inacreditável autorização para publicações que associam gays e trans – outro grupo vulnerável – a doenças mentais.
Não, Sr. Zuckerberg, não é este o 2025 que queremos. Aliás, muito nos admira o fato de um profissional tido como inovador, da turma do Vale do Silício, se revelar tão conservador e alinhado com políticas de aniquilamento da diversidade, de vozes e ideias plurais. Está claro que, no caso do CEO, lucro e poder – sempre eles – ditam os rumos. Felizmente, do lado de cá, inúmeras iniciativas criticam o reposicionamento da Meta – incluindo o próprio governo federal – e exigindo uma definitiva regulamentação que garanta o convívio civilizado hoje e nos próximos 75 anos do século XXI.