Como na coluna anterior – em que aproveitei o mês de agosto para recomendar o livro “Em Agosto nos Vemos” – repito o mote para escrever sobre a campanha internacional Setembro Amarelo. Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) – em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) – vem desenvolvendo esta iniciativa que tem como propósito dar visibilidade a um assunto que ainda é tabu: o suicídio e suas formas de prevenção. Em 2024, o lema é “Se precisar, peça ajuda”.
Decidi falar sobre isso, também, porque há exatos 30 anos atrás fui diagnosticada com depressão e, quem sabe, esta experiência pessoal possa contribuir para a imprescindível desconstrução do estigma que ainda cerca as doenças mentais. Felizmente, não tive ideação suicida, mas, segundo a ABP e o CFM, 96,8% dos casos de suicídio registrados estão associados com histórico de doenças mentais que podem ser tratadas. Em outras palavras, precisamos, sim, falar sobre as causas que podem levar uma pessoa a tirar a própria vida. Entre outros motivos, aplaudo esta campanha porque, na época em que estive doente, o nocivo pacto de silêncio sobre o tema era bem maior. Eu me envergonhava muito do que sentia, fazia o possível para esconder minha depressão, especialmente porque tive que tratá-la com medicação e não somente terapia. Eu não conhecia absolutamente ninguém que tomasse medicamentos antidepressivos há 30 anos atrás, o que significava que no meu entendimento eu estava fora de controle. Hoje, diferente daquele tempo, as medicações psiquiátricas são comuns e muitos pacientes, felizmente, falam sobre o tratamento sem maiores constrangimentos. Evoluímos bastante, mas é bom lembrar que, no Brasil, os registros de suicídio se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, uma média de 38 pessoas por dia.
Do meu lugar de fala, posso garantir que buscar ajuda é o caminho mais curto para enfrentar e tratar a doença. Na sociedade atual – do desempenho, da produtividade e resultados – o deprimido é visto como um fraco, daí a vergonha, o sentimento de incapacidade e a culpa. Com a depressão nos perdemos de nós mesmos, não nos reconhecemos e mergulhamos num vazio que, em muitos casos, pode chegar a desfechos trágicos. Sempre é bom lembrar que existem diferentes tipos de depressão, para além daquela em que a pessoa não sai da cama. Muita gente deprimida trabalha, estuda, cuida dos filhos e vive um sofrimento velado. Mas os sinais estão aí e precisam ser observados com atenção e carinho. Como é possível, então, ajudar? A resposta, em uma palavra, é ouvindo.
Ouvir e acolher quem está sofrendo é um desafio e me permito recomendar: nunca vá para uma conversa na base de conselhos do tipo “vamos lá, sai desse desânimo, você consegue”. O deprimido não consegue e, em geral, isso só faz crescer o sentimento de incapacidade e culpa. Ouça, simplesmente ouça o que ele tem a falar. Acolha os sentimentos e a dor e, principalmente, não julgue. Ouça mais e fale menos, tenha paciência nos primeiros momentos porque é difícil admitir que estamos vagando num profundo e triste buraco.
Quebrar o pacto de silêncio sobre as doenças mentais, seus incômodos, e em alguns casos urgências, é uma jornada que compete a todos nós. Não de qualquer maneira. Assim como quem sofre deve pedir ajuda, peça você também, caso não saiba como lidar. Ninguém precisa – nem merece – sofrer sozinho.
Para saber mais acesse setembroamarelo.com