Por Patrícia Viale
Cresci na localidade da Barragem do Salto – Distrito de Eletra, em São Francisco de Paula ouvindo, da minha avó e minhas tias avós, que setembro é mês de enchente, mês da cheia de São Miguel. E sempre no final do mês ficava eu observando, de longe, as águas do rio Santa Cruz passando pela barragem. O Santa Cruz forma os três maiores reservatórios da região do Sistema Salto, formado pelas barragens do Divisa, do Salto e do Blang. Os reservatórios foram construídos pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), entre as décadas de 50 e 60, para a produção de energia. Quando os lagos das barragens enchem demais, elas vertem a água por cima, seguindo o fluxo normal do Rio Santa Cruz.
Enchente de São Miguel
O mês de setembro é tradicionalmente associado a chuvaradas e cheias. Tanto que as inundações, desta época do ano, são chamadas enchentes de São Miguel, em alusão ao arcanjo, que é celebrado no dia 29/09. Os anos de 1926 e de 1928, por exemplo, ficaram profundamente marcados por graves alagamentos, em Porto Alegre.
Setembro é um dos meses mais chuvosos do ano, para a maior parte do Rio Grande do Sul. Na investigação da ocorrência de enchentes nesse período, se percebe que estas, de fato, acontecem na segunda quinzena do mês, o que dá veracidade científica à percepção popular das “enchentes de São Miguel”. Na Bíblia Sagrada, o anjo Miguel aparece como aquele que combate o mal, e livra as pessoas das armadilhas do diabo. Seu nome significa “aquele que é semelhante a Deus”. Considerado o chefe dos arcanjos, foi quem expulsou os anjos maus do Céu e o representante na luta do Apocalipse, comprovando a vitória do bem.
El Niño
Outro fator para as inundações desta época é o El Niño, um fenômeno climático da atmosfera oceânica, em larga escala, ligado a um aquecimento periódico, nas temperaturas da superfície do mar no Pacífico, influenciado por mudanças no fluxo das correntes de vento planetárias. No período de atuação do fenômeno, as águas ficam, pelo menos, 0,5°C acima da média por um longo período de tempo, quase sempre variando entre seis meses a dois anos.
A atuação do El Niño no Brasil provoca secas em algumas áreas, e o aumento das chuvas em outras, principalmente na região sul, ocasionando profundas alterações meteorológicas. O El Niño, fenômeno natural categorizado como uma “anomalia climática”, repete-se em intervalos irregulares, que costumam variar entre dois e setes anos.