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Coluna da Paty

Patrícia Viale

Mete o cacete

Estamos acostumados a dar porrada quando somos contrariados. Estamos acostumados a não permitir discordâncias. Simplesmente somos assim e pronto. Se indígena reclamar da ação de retirada de ambulantes ao redor da Catedral de Canela, mete o cacete. Se mulher reclamar de homem, mete o cacete. Se o cavalo cansar e não quiser andar, mete o cacete. Estamos nos acostumando a sermos menos humanos a cada dia que passa.

Uma ação integrada entre a Prefeitura de Canela, Brigada Militar (BM), Polícia Civil (PC) e Receita Federal, aconteceu na segunda-feira, 25/08, no entorno da Catedral de Pedra para combater o comércio e a ocupação irregular em área pública, com a participação de 56 agentes públicos. Mas em determinado momento o indígena kaingang Silvério Ribeiro, de Farroupilha, foi brutalmente agredido com joelhadas, pontapés e socos desferidos por policiais, que o jogaram ao chão e o algemaram com violência desmedida. Publicamos o vídeo no Instagram do Portal Serrano. Era óbvio que os ambulantes reclamariam, quando fossem retirados do entorno da igreja. Era óbvio que o indígena resistiria. Era óbvio que os policiais precisariam controlar a situação. Mas com força bruta?  Vários policiais para controlar com brutalidade um indígena? Sim, eu sou a favor do diálogo sempre, em qualquer situação, e quando não tiver mais conversa, a gente chama um intermediário que esteja calmo para continuar a conversa. Mas bater nunca. Humilhar nunca. Aqui em casa temos uma regra: Não se mata, não se bate e não se humilha o outro. As relações ficam mais difíceis? Não, as relações se tornam construtivas e confiantes. Já apanhamos demais para defender o tapa e a humilhação.

Chegamos num ponto em que o soco, a porrada, a cacetada, a ameaça física ou psicológica não podem mais ser normais. Estamos cansados e cansadas de ver brutalidade. Estamos cansados e cansadas de achar que tapa é justificado e que preconceito é normal. Escutem-se! Limpem os ouvidos! Limpem o coração! Somos diferentes, mas todos e todas queremos viver em paz. E paz só se alcança quando soubermos nos ouvir e conversar, respeitando as diferenças.

Nunca seremos iguais. Nunca seremos os mesmos. Somos distintos, distintas e únicos. Este o bonito da vida. E fica mais bonito quando as diferenças se unem pelo bem de uma maioria. Fortaleza é ser vulnerável e manter o diálogo. Fraqueza é meter o cacete.

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