Uma grande amiga, jornalista e escritora brilhante, a Helena Terra, publicou uma crônica na plataforma Sler (www.sler.com.br) que me inspirou a também escrever sobre mentiras, claro que de forma distinta da minha amiga. Sugiro a leitura do texto da Helena na Sler – “A dupla vida das mentiras” – e suas referências à literatura. Como não tenho o talento da minha amiga, vou, corajosamente, escrever do ponto de vista pessoal.
A crônica mobilizou minha vontade de abordar o tema porque detesto mentiras. E o pior: tenho um faro aguçado para perceber quando alguém está mentindo. Se for uma pessoa amiga, minha decepção é gritante, até maior do que eu gostaria e deveria sentir. Essa repulsa às mentiras vem da minha criação, porque aprendi a valorizar a ética e a transparência, princípios que pautaram, também, a educação que procurei dar ao meu filho. Quando ele era adolescente me esforcei para manter um diálogo aberto, de forma que ele confiasse em mim e pudesse ser sincero, sem receios de punições por contar a verdade. Hoje, acredito que consegui formar um cidadão ético para fazer a diferença neste mundo de tantas trapaças. Talvez este seja um dos maiores legados que deixo nesta existência, se não for o maior. É claro que gente cria os filhos para serem felizes, mas defendo incluir a ética nesta equação.
Como não costumo passar por perfeitinha, fiquei me perguntando sobre as minhas mentiras, aquelas que, por exemplo, contei aos meus próprios pais para fugir dos castigos quando era jovem. Naquele tempo, mesmo que eles fossem progressistas, o diálogo transparente sobre determinados assuntos não era tão aberto, especialmente no caso dos namoradinhos, da bebida nas festas e outras escapadinhas. Mas, admito, eram mentiras e eu afirmei que as detesto. Pois é, não é fácil levantar bandeiras e dou a mão à palmatória, embora acredite que existe uma grande diferença entre mentir para prejudicar ou machucar alguém e essas mentirinhas que estou assumindo. Quer dizer que é possível diferenciar uma mentira da outra, usar da subjetividade para absolver algumas e condenar outras? Eu acredito que sim. Você pode ocultar (mentir?) para uma pessoa sobre seu real estado de saúde, em um primeiro momento, embora chegará a hora em que a verdade aparecerá com toda a sua clareza. O que não pode, no meu ponto de vista, é não levar em conta o outro, assumindo uma narrativa que o prejudique ou cause sofrimento.
Mesmo com as contradições que esse texto possa revelar, acho deplorável mentir para obter vantagens, para beneficiar sem nenhuma ética a si mesmo ou aos seus. Infelizmente, muita gente mente sem dó nem piedade e vive, sem constrangimentos, uma farsa. Mas até para isso precisa ter “talento”. Sustentar mentiras, a médio e longo prazo, deve dar um trabalho enorme. Eu prefiro a tranquilidade da verdade, simples, direta, mesmo que – em algumas situações – ela possa trazer problemas. Sim, nem todo mundo quer saber a verdade, mas isso é assunto para outra coluna.