O seu canal de notícias dos Campos de Cima da Serra

Oficina Santa Sede

Santa Sede

Luzia – Isabel Scheid

Depois de se ver no vestido que mais gostava, com suas listas coloridas e cheio de flores, e sabendo que a mãe não estava por perto, Luzia sentiu-se segura para sair. Ainda parou na porta, olhando o mundo lá fora. Que grande, pensou ela.

Tomou o caminho empoeirado, passou a cerca e seguiu rumo ao mato que enxergava, lá longe.

“- Onde você vai, Luzia?”, perguntou o calango.

“- Vou lá no mato, Seu Calango. Quer ir comigo?”.

O calango pensou, pensou, e não aceitou. Mato não é lugar para calango, afirmou. –“Gosto mesmo é de andar pelas paredes”. Também sabia que, na estrada, estava muito visível para o carcará. Eita! Ainda lembrava do susto de poucos dias atrás. Safou-se por pouco. E nem bem pensou no carcará, eis que o diabo aparece! Luzia ficou feliz, abanou os braços, uma alegria. “Lá vem meu amigo!”. Carcará foi baixando, foi descendo, e pousou na cabeça de Luzia. Cuidadosamente, delicadamente, firmou as temíveis garras nas tranças da menina e lá seguiram os dois. Calango suspirou aliviado e saiu correndo, as patas levantando poeira, a cauda erguida, rumo à segurança da casa.

O mato, que estava distraído fazendo folhas e galhos, olhou para a estrada e assustou-se. “- Ô gente, o que tá vindo lá? Alguém com cabeça de bicho? Ou o danado do carcará já tá roubando um filhote de novo?” Resolveu ficar parado, bem quietinho, rezando para o vento não aparecer e fazer barulho nas suas folhas.  E foi assim, um mato assustado, que finalmente reconheceu Luzia e seu estranho chapéu.

– “Menina!”, gritou o mato, “larga esse aproveitador aí. Ele tem asa, pode voar, não precisa ficar agarrado na sua cabeça”.

– “Mas a gente gosta um do outro, Seu Mato! É tão bom a gente passear juntos!”.

O mato concordou. Afinal, amigos de verdade são raros. Lembrou da chuva, sua melhor amiga. Pena que aparecia pouco naquele sertãozão – mas quando aparecia, que beleza! Ele até botava roupa nova, toda verde, quando a chuva chegava.

Luzia deu uma volta no mato, conversou com algumas formigas, e pegou a estrada poeirenta para voltar para casa. No caminho o carcará agradeceu o passeio, bateu asas e voou.

A mãe a esperava na porta, entre ansiosa e nervosa, querendo manter a calma. Tentava acostumar-se com as saídas da filha para o pequeno mundo que as rodeava.  Já bastava o susto com o calango na parede do quarto.

“- Foi passear, filha?”

“- Fui sim, mamãe”

“- E viu alguma coisa diferente?”.

No que Luiza diz, muito séria:

-“Nada, mamãe. Nadica de nada”.

Postagens Recentes
Postagens Recentes
Colunistas

Você Mente?

Uma grande amiga, jornalista e escritora brilhante, a Helena Terra, publicou uma crônica na  plataforma Sler (www.sler.com.br) que me inspirou

Assine nossa newsletter