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RODA VIVA – Flávia Hartmann

Para Silvia, que canta e para Rafael, que pontua

Uma roda-gigante não desperta em meu espírito um encantamento; talvez, no máximo, uma singela simpatia. Admiro a engenharia por trás dessas estruturas e os prazeres que proporcionam aos seus usuários. Nem queiram entender, as  rodas-gigantes me lembram panetones no Natal.

A primeira roda-gigante foi concebida pelo engenheiro americano George Washington Gale Ferris Jr. para a Exposição Mundial de Chicago, em 1893. Com 80,4 metros de altura e pesando cerca de 2.200 toneladas, a estrutura foi desmontada, transportada e remontada, até ser implodida com 200 quilos de dinamite. Sua criação visava competir com a Torre Eiffel. Pessoalmente, aprecio a imobilidade e a presença constante da Torre.​

Nas metrópoles contemporâneas, as rodas-gigantes são atrativos turisticos. A London Eye, às margens do rio Tâmisa e inaugurada em 2000, é uma das mais icônicas, com 135 metros de altura, sendo a mais alta do planeta até 2006. Atualmente, a Ain Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é a maior do mundo, com 250 metros de altura. No Brasil, a Roda Rico, inaugurada em 2022, é a maior da América Latina, com 91 metros. Já a Roda Canela, localizada no Rio Grande do Sul, destaca-se como a primeira roda-gigante temática do mundo, proporcionando aos visitantes uma experiência única com seus imponentes 52 metros de altura.​

No Rio de Janeiro, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, a roda-gigante do Tivoli Park marcou minha juventude. Lembro-me de entrar nela e, após uma única volta, naquela rotação fatídica para embarque, pedi para descer, desapontando quem estava ao meu lado.  Tentei de novo em Brasília, e lembro do medo que senti lá no alto e dos pedidos desesperados para descer. As novas, com suas cabines, encaro bem sem passar vergonha. Reclamo dos preços, das filas e dos convites “obrigatórios.”

Afinal, o que são estas estruturas metálicas? O que o imaginário coletivo deposita nelas?  Proporcionando a possibilidade de contemplar diferentes e longínquas paisagens do alto, as pessoas se lançam:  pedidos de casamento, términos de namoro, assassinatos, suicídios, acidentes envolvendo crianças. Perigosas? Talvez.

Tom Cruise pediu Katie Holmes em casamento em uma roda-gigante no parque Efteling, na Holanda. O filme “The Night Is Young” (1935) apresenta uma cena em que os protagonistas passam a noite juntos presos em uma roda-gigante, simbolizando o desenvolvimento de seu relacionamento. No livro “Roda-Gigante: um romance sobre sexo, bebedeiras e desencontros”, Henrique Chveidel retrata a vida de sete jovens da classe média carioca nos anos 1980, que oscilam e balançam, buscando equilíbrio em meio às liberdades políticas e de costumes que lhes foram concedidas.​ Inspiradoras? Sim.

Uma fotografia em preto e branco de uma roda-gigante vazia e parada ao entardecer caiu no colo desta cronista. Nostálgica, encontro na canção de Chico Buarque um afago, para os altos e baixos da vida, e a certeza de que “Tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu. … Mas eis que chega a roda-viva carrega o destino pra lá…”

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Uma grande amiga, jornalista e escritora brilhante, a Helena Terra, publicou uma crônica na  plataforma Sler (www.sler.com.br) que me inspirou

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