Saiu no jornal da cidade que o Coelhinho da Páscoa está de licença-saúde e não poderá entregar os ovinhos na próxima Páscoa. As pessoas se comoveram e resolveram abrir uma seleção para vaga à Coelhinho da Páscoa. O candidato não precisava ser peludo e ter grandes orelhas. Os pré-requisitos eram total disponibilidade para a época da Páscoa, gentileza com as crianças e com os idosos que receberiam os ninhos, além de um grande sorriso.
A cidade montou um palco, organizou os candidatos inscritos e marcaram uma seleção na manhã do domingo seguinte. Os inscritos eram: a Girafa Poá, o Leão Baio, a Preguiça Cinza e o Elefante Tramonte. Todos tinham slogan de campanha e distribuíam bandeirinhas para o público presente.
Os candidatos foram chamados ao palco. Girafa Poá disse que teria facilidade para entregar os ninhos nos andares mais altos. Leão Baio usou de graça e dançou passos eletrizantes com uma cesta repleta de ovos de chocolate. A Preguiça Cinza perguntou sobre o horário de descanso. E o Elefante confessou não ser Tramonte, apenas Elefante, enquanto carregava uma cesta com fitas, confeitos doces e lembrancinhas na tromba.
Os jurados pediram sorrisos aos candidatos e o sorriso mais cativante seria o escolhido. Os quatro candidatos se olharam e aqueceram as feições para o teste do sorriso. Girafa Poá sacudiu as orelhas e puxou os lábios de uma ponta a outra de suas orelhas. Mas o esforço foi tão grande, que na volta repentina dos lábios, o grande pescoço estremeceu e deu um nó em si mesmo. Girafa Poá ficou de pescoço enosado.
O Leão Baio desatou numa gargalhada com a atrapalhação da colega. Sentiu-se tão à vontade que acabou mostrando as presas aos jurados. E estes ficaram com medo daqueles grandes dentes brilhosos. Preguiça Cinza dormiu na sua vez e nem o badalar dos sinos da igreja a acordou. Chegou a vez do Elefante. Posicionado na frente dos jurados, o Elefante arregalou os olhos. Uma vez. Duas, três vezes. O júri se olhava sem entender o misterioso sorriso. Foi quando o Elefante lembrou que a tromba cobria seus dentes. Mas se ele levantasse a tromba seus olhos seriam cobertos. Então o Elefante pensou, pensou e na hora de sorrir jogou a tromba para o lado. O sorriso do Elefante apareceu emoldurado pelo brilho dos olhos arregalados. A cidade toda, que assistia à seleção, começou a aplaudir. E os aplausos persistiram por um longo momento. O Elefante então recebeu um aplique imitando orelhas felpudas de Coelho da Páscoa.
Naquela Páscoa, a cidade recebeu seus ninhos coloridos e confeitos doces, todos entregues pelo Elefante Coelhinho da Páscoa.
(este texto foi publicado em 2009, no formato cartonera/livro artesanal, para ajudar a arrecadar recursos para a Apae São Chico)