Se você está lendo esta crônica, deu certo o lançamento de nosso livro: Não Olhe para Trás. É a 13ª obra impressa do Santa Sede, supervisionada e organizada por Rubem Penz, idealizador desta iniciativa literária. O livro apresenta 81 crônicas de temas diversos como viagens, roupas, colegas de trabalho, preferências à mesa e mais, escritas por nove autores.
A Santa Sede – Crônicas de Botequim, foi criada há dez anos em Porto Alegre e desembarcou em 2019 na cidade de Canela. A primeira turma foi realizada em condições ideais: a mesa de bar, habitat natural do cronista. Por causa da pandemia, a oficina aconteceu totalmente on-line e só agora, no lançamento, os integrantes deste grupo, já vacinados e mantendo os protocolos, se encontrarão e prometem beber todas. E comer muito. Picanha e pizza já estão no cardápio. Participante do Rio de Janeiro se juntará ao grupo na Serra Gaúcha.
Escrever sobre este tema foi muito difícil, porque não olhar para trás está impossível.
Como não olhar para trás numa merda de um país, com milhares de pessoas mortas por um vírus que tem vacina? Em 04 de maio de 2021, o falecimento do ator Paulo Gustavo deu chute no ovário, aquele que eu não tenho mais. Cadê o riso minha gente? Tenho que olhar para trás.
Tenho que lembrar a todos que o Brasil, país continental, foi invadido em 1500 pelos portugueses e na sequencia dos anos, por outras tretas de europeus, que saquearam o habitat dos povos originários e as comunidades denominadas indígenas, correm o risco de extinção, porque a gente não olhou para trás como devia. Aí veio a Colonização e os escravos. E hoje somos um dos povos mais racista do planeta, porque não conseguimos tirar a Casa Grande de dentro de nossa branquitude. Porque a gente não olhou para trás como devia. Aí veio a Ditadura Militar, uma porrrada de mortos, a tortura comeu solta, e como não olhamos para trás, um genocida está no poder, depois de exaltar em pleno Congresso Nacional, na casa máxima da democracia, um torturador. Como não olhamos para trás, nestes últimos tempos do século XXI, tem quem ainda se mantém em posturas negacionistas, egoístas, comprometendo nossa sanidade. Nossa paz. O Brasil está sendo sucateado. Vivemos um escárnio total.
Preciso olhar para trás e resgatar minha alegria, minha paixão, minha fúria e, principalmente, minha esperança. Precisei sentar aqui um pouquinho e pegar ar. Precisei pensar nas pessoas maravilhosas que eu conheço desde sempre e agradecer a cada uma pelo companheirismo e apoio. Pensar nos meus amigos que morreram e toma-los como exemplo, dignificando suas existências. Precisei olhar para trás e lembrar dos meus pais maravilhosos e da filha incrível que eu fiz, minha Bem Feitinha. Agora tenho duas filhas, porque a criatura me deu uma nora querida.
Olhando para frente, prevejo uma vida melhor. Sem esta esperança cravada no peito, vocês não estariam lendo esta minha crônica. Então, nada mais justo: “Obrigada por existirem”.