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Carta a uma menina – Tânia Pereira

Não sei se você já sabe ler. Talvez sim, pois seus olhos tem o brilho da inteligência e o frescor da curiosidade. Sua boca não pude conhecer, mas suspeito que seja bonita e convide a um sorriso alegre e a uma conversa jovial. Quando eu a vi, quis convidá-la para brincar de roda, como eu gostava de fazer com sua idade. Pensei, também, em perguntar se você conhecia o mar para, quem sabe, entrarmos nele juntas, essa imensa massa de água com sua força e som surpreendentes para uma criança. Eu estaria ao seu lado e poderíamos nos divertir como duas meninas sem medo diante da força da natureza.

Quis saber de sua mãe, de seu pai, se você  tem irmãos, avós por perto. Me perguntei se alguém cuidaria de você, protegendo sua infância. Lamentei cogitar que ela possa estar ameaçada. Lembrei-me da estatística que me assombrou e me deixou insone: um terço! Um terço das mulheres do mundo sofreram ou sofrerão violência física ou sexual ao longo da vida. 736 milhões de bebês, meninas, jovens, mulheres ou velhas, todas elas, de qualquer idade, estão permanentemente ameaçadas de violência, inclusive você, menina linda da janela. Inclusive eu, mulher de meia idade, que, às vezes, me sinto também uma menina  com vontade de reencontrar uma inocência perdida para, por poucos momentos, poder esquecer que o mundo trata muito mal suas meninas e mulheres.

Esta carta é apenas para que saiba que não está só. Para que lembre que se um dia sentir o abandono, a violência, o menosprezo, saiba encontrar olhares cúmplices. Aí estará a força de que você vai precisar: a cumplicidade de uma mulher pronta para ajudar outras mulheres, essa rede tão necessária para que possamos enfrentar esse mar tempestuoso sem naufragar.

Minha menina, que sua janela lhe ofereça um mundo de amor e acolhimento.

Foto: João Mendes

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