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2026 – Ricardo Largman

O lançamento do ChatGPT 10 forneceu a todos a certeza final, absoluta, de que a Inteligência Artificial teria superado a criatividade humana de todas as formas possíveis. Testes exaustivos em laboratórios comprovaram a capacidade das máquinas de redigir roteiros de filmes, teses de mestrado, obras literárias e matérias jornalísticas com mais técnica e originalidade que os profissionais de carne e osso, até então titulares incontestes dessas áreas. Ciência e alta tecnologia venceram o embate — com precisão matemática e uma larga vantagem sobre o talento dos seres humanos. Os processadores de dados se transformaram em uma ferramenta conceptiva imbatível, muito próxima da genialidade.

Já não era possível identificar, nas telas de cinema, nas páginas de um livro ou nos jornais, o que foi produzido por um programa de IA generativo ou pela ainda fértil mente humana. As mais tradicionais premiações, em todos os setores da arte e da cultura, passaram a não fazer sentido algum: como oferecer um Oscar de Melhor Atriz a “alguém” que não é nada mais do que uma criação digital, belíssima criação digital, admita-se, mas que não consegue receber em mãos a estatueta dourada porque simplesmente… não tem mãos? Ou o Pulitzer, a um repórter investigativo que sequer presenciou a notícia, que jamais entrevistou uma fonte jornalística?

Durante as últimas semanas, os mais sábios e laureados representantes da classe artística e cultural no mundo inteiro se reuniram para debater a fundo a questão. Queriam não capitular ao inevitável. Havia, contudo, o consenso de que não seria mais necessário estender o prélio: o vencedor era óbvio. Ou parecia ser. De súbito, o catedrático de Letras ergueu-se da cadeira e propôs a realização do Prêmio Maior da Poesia, a ser disputado pelos mais brilhantes poetas vivos e em atividade, mas também, é claro, pela IA. De linguagem complexa, rebuscada, com seus versos milimetricamente trabalhados, a poesia representaria a arte em seu estado mais evoluído, a arte do homem por excelência, ou, como resumia Aristóteles, “o impulso do espírito humano para criar algo a partir de imaginação e dos sentimentos”.

Pois que a definição do vencedor não seria nada subjetiva: uma ferramenta tecnológica avançadíssima, recém-lançada, foi desenvolvida para captar e mensurar as emoções humanas diante da leitura de textos; quanto mais intensa a reação, maior a pontuação da obra. E os maiores nomes da poesia submeteram seus trabalhos ao escrutínio digital. Um texto em especial destacou-se dos demais, porém. Era expressivo, afetuoso, pleno de sentimentos, carregado de metáforas, profundo, e profundamente complexo. Abaixo da última linha, na assinatura, lia-se: ChatGPT 11.

Àquela altura, ficou claro para todos: robôs já eram capazes de sonhar.

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