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Coluna da Paty

Patrícia Viale

Luz Vermelha

Sim, eu já tive vida de cigana e num destes giros me aventurei num bairro polêmico em Amsterdã. O bairro da Luz Vermelha ou Red Light District, mais conhecido pelos moradores locais como De Rosse Buurt (a vizinhança vermelha) ou De Wallen (o verdadeiro nome do bairro), fica na região central de Amsterdam, mais precisamente nos arredores da Praça Dam e  é famoso por ser uma zona de prostituição legalizada. A ideia, na época, era um passeio por um ponto turístico não padrão, com meu ex sogro, holandês por nascença. Olhar as vitrines com mulheres que dançavam, semi nuas, ou despindo longos casacos, mirar os sex shops com artigos provocantes e bizarros de plástico, entrar nas pequenas lojas de venda de maconha e acompanhar as negociações de heroína, na rua, entre imigrantes clandestinos africanos e turistas, não era bem um passeio turístico, mas minha vida sempre se confundiu entre olhares sociológicos e vivências padronizadas, desde a época de estudante de jornalismo em Porto Alegre. Enquanto uns turistam, eu faço análise sociológica. Tentei rir dos turistas bebados olhando as vitrines, que ofereciam carne feminina dançante. Eram homens embasbacados, disfarçando seus instintos e seus desejos naquelas quadras. Estava visível o tédio e desgosto daquelas mulheres, que não encaravam as janelas vistosas como apresentações artísticas, mas como necessidade para sobreviver. Isto mexeu comigo. E me fez parar de rir na alma.

O passeio finalizou num balcão de bar provando jenever, um destilado feito com zimbro e outras especiarias. Não preciso muito para me embebedar, mas lembro que depois de provar fui para a tequila, minha preferida. Não gosto de cerveja. Nem holandesa, nem de outras nacionalidades. A cabeça tonta de três doses, o incômodo com a exposição da carne feminina e muita caminhada tomando água me fizeram ir ao banheiro. Era preciso descer uma escadaria. O banheiro é lá embaixo, traduziu meu ex sogro. Entre trocas de passos, repetindo para mim o banheiro é lá embaixo cheguei num cubículo escuro. Acendi a luz. Acho que fui parar no banheiro dos funcionários. Eram dois cabides na parede, com casacos pendurados. Enquanto tentava me equilibrar para fazer xixi, repetia palavras holandesas recém aprendidas alstublieft,dank u wel, olhei o casacão preto de couro pendurado. Ops! Casacão de couro sadomasoquista! Vesti a peça do alheio e fiz pose fatal em frente ao espelho. Lembrei da época dos amigos darks dançando em Porto Alegre, entre festas nas casas noturnas Taj Mahal, Fim do Século e Ocidente. As mulheres entediadas de Porto Alegre ficavam nas esquinas. Não tinham vitrines e luzes coloridas para encantar os clientes. A vida é sempre a mesma, seja lá onde estivermos ou em que língua usarmos para falar, mas parece muito mais ilusória e divertida sob holofotes vermelhos.

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