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Sonho azul profundo – Rossana Pasquale Fantauzzi

Imagine-se em pé, sem peso algum, levitando num ambiente totalmente aberto, iluminado em nuances de luz e sombras delicadas. Seus braços e pernas espalham-se flutuando suavemente.  Mãos e pés reviram prazeirosamente os punhos e os tornozelos em movimentos lateralizados, que não estamos acostumados a fazer, lentamente. Mas dão impulsos capazes de fazer você se deslocar. A cabeça move-se de um lado para o outro, em toda a extensão possível, mas como se um fisioterapeuta a segurasse, para ela não pesar sobre a cervical. Você vai arregalando as pálpebras e revirando os olhos para admirar, em surpresa, um mundo estranho que se apresenta à sua volta. Sente-se criança descobrindo a magia de um Parque de Diversões. O ambiente não é frio nem quente, suave temperatura, aconchegante. Um leve frescor passa por entre as mexas de cabelos que esvoaçam verticalmente, em câmera lenta. O silêncio é profundo, e acalentador. De cor azul. Zummm-zummm… E vai chegando o som de longe, intermitentemente: zzuu-íímmm-uííím… Aproximando-se e aumentando de volume… Mais alto e mais rápido: UÍM-UÍM-UÍM… Até que, inevitavelmente, você abre os olhos, ofusca-se com a claridade da janela descortinada e percebe-se em um corpo de peso real, em toda a sua gravidade, pele meio melada em suor, sobre o lençol amarfanhado. A mão tateia a mesinha de cabeceira até desligar o alarme. O cotovelo bate na beirada do estrado da cama provocando um choque dolorido e um espremer de feições faciais, enquanto o pé, adormecido, vai “desaformigando”, estático, incomodamente. Fecho os olhos de novo para logo retomar o sonho. Empenho toda a minha imaginação para recriar e reviver cada detalhe, pintando os cenários em todos os tons de azul que conheço na caixa de lápis de cor. Em vão. Só fica a lembrança. Impossível esquecer. Como se fosse a recordação de uma vida paralela.

Até que um dia fiz um batismo. Batismo você faz quando não fez curso para mergulhar com cilindro de ar comprimido e está diante de um mar de encher, e alagar, os olhos de azul! Num mar com praticamente 90% de visibilidade, meu corpo e mente esqueceram-se onde estavam. Lá flutuei novamente, levemente, na água morna, junto a vários seres coloridos em desenhos e combinações fantásticas. Formas inimimagináveis, em bandos ou solitariamente, desfilaram em suspensão à minha frente: peixinhos e peixões de olhos curiosos, cavalos-marinhos soltos em quase desequilíbrio, moréias ondulantes, tartarugas ágeis, polvos elegantes. Raias volumosas pairavam soberanas sobre algas bailarinas e corais silenciosos. Eu esbugalhava os olhos apertados pela máscara para essas danças e vaievéns marinhos sinuosos e tão peculiares. Esforcei-me o tempo todo para controlar a respiração diante a tanto êxtase. Perdi-me algumas vezes nos comandos simples de descida e subida, e quis me afastar do instrutor achando-me integrada e parte daquele ambiente perfeito, de paz, de azul, que eu reconhecia e havia experimentado. Quanta leveza! Senti vontade de tirar a máscara, de desafivelar o cilindro e sair flutuando, respirando livremente como se fosse um sonho.

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