Ela estava sentada na espreguiçadeira próxima a um pinheiro. Daqueles de galhos feitos de grinfas. Aproveitava o sol de inverno um tanto rarefeito, mas intenso. Fechava os olhos e parecia cochilar, somente os pés se movimentavam-se devagar, um sobre o outro, como se estivessem travando conhecimento. Olá, como vai? Estou bem e você? Abria os olhos e examinava o cenário à sua frente. Céu azul safira, nenhuma nuvem alta ou baixa e visão ausente mais uma vez. Dormia ou somente fingia dormir.
Se ele telefonar ainda hoje juro que esqueço tudo e voltamos a ficar bem, mas precisa ser iniciativa dele, senão nem pensar. Como pode isso querer tudo do jeito dele, na hora que ele quer? O sol me faz sorrir e acreditar que os acontecimentos podem melhorar. As coisas podem melhorar. Só preciso fazer escolhas. Tirar forças desse astro que brilha, levantar desta cadeira, pular, carregar a vida nos braços, embalar meus sonhos e acreditar cada vez mais que eu posso e ainda serei feliz.
Ela abandona a cadeira e caminha rapidamente para dentro de casa. Um passo mais apressado que o outro. Esboçava um sorriso. A espreguiçadeira vazia experimentou esquentar-se com o restinho de sol. Um barulho, não muito fraco, mas até bem forte para alguns ouvidos, poderia ter impressionado-a, mas ela não ouviu. Estava ao telefone. No pinheiro araucária, protegido por lei, uma pinha debulhou e pinhões caíram na grama queimada pelo frio dos dias anteriores.