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Coluna da Paty

Patrícia Viale

Sobre a teoria do desejar

Zé, que beijava Carolina e encantava-se com Sandra, amava Maria, que caía de paixões por Otávio. Otávio, separado há anos de Lúcia, vivia só e descrente do amor. Maria não era feliz com Zé, pois só pensava em Otávio.

Otávio amargurado pelo desamor de Lúcia, não percebia Maria. Lúcia morava na capital porque havia passado em um concurso público e tinha um namorado. E Zé?

Zé suspirava pelos cantos e por todas as moças, mas com os olhos vidrados em Maria. Um dia Zé acordou e se perguntou “por que amar quem não me ama? Por que desejar o que não se pode ter?” E numa conversa de bar jogou a pergunta para Otávio. Este coçou a cabeça e olhou muito sério para o amigo: “são coisas da vida. E algumas dessas coisas não têm explicação”.

Conclusão 1: um quase não pensar sobre o que acontece pode ser a melhor opção. Zé voltou para casa pouco convencido e arremessou a mesma pergunta para Maria. Ela um tanto nervosa, com receio de ser descoberta, gaguejou “não sei. 

Conclusão 2: a revelação do inesperado, o prazer no que é proibido é uma realidade. Por causa do trabalho, Zé foi à capital e encontrou Lúcia numa repartição pública. Conversaram rapidamente sobre “como está”, “e o trabalho”, “a família vai bem”. Na hora de se despedirem, Zé não aguentou e tascou a ladainha do desejo.

Lúcia não se assustou, apesar dos olhos arregalados, e comentou “porque somos uns eternos insatisfeitos. Nunca estamos satisfeitos com o que temos. Precisamos mais e mais”.

Conclusão 3: o ser humano é ambicioso. Quer sempre mais. Nenhuma palavra ou ideia organizava os pensamentos de Zé. Maria insistia na tentativa de chamar a atenção de Otávio. Lúcia vivia com o namorado e se encontrava, toda quinta-feira, com um colega de trabalho num motel. Otávio era visto nos bares da cidade. Sempre muito quieto. E Zé? Num longo inverno, o teimoso Zé se aventurou a escrever sobre a teoria do desejo.

No início achou que a lógica seria sua guia. Acomodou-se em um ambiente ordeiro, comprou canetas e aparelhou o computador. Nada produzia e passou a provar do desânimo. Até que sentiu uma fisgada atrás da orelha. O caos gritava por seu nome. Agora ele escreve um livro sobre o assunto. Alguns capítulos são rápidos. Outros lentos, tanto que se arrastam. Tudo depende da musa que inspira seu momento. Parece que a atual se chama Valquíria e é tatuadora. Dizem que foi dela a ideia de tatuar um ponto de interrogação bem grande na nuca dele.

P.S: a pensar, o que inspira o seu momento?

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