Nas últimas semanas, como jornalista, recebi dois depoimentos de pessoas que disseram ser mal tratadas em estabelecimentos comerciais e instituições de serviços. Motivo? A falta de estudos. Quando as pessoas me procuram para reclamar de um serviço ou para contar de algo que não está funcionando bem eu procuro ouvir com atenção. Jornalismo não é fofoca, nem diz que me diz. Jornalismo é apuração de informação, é relato de fato. As pautas sobre mal atendimento estão se tornando muito rotineiras e já percebi que todo assunto que vira comum, se torna banal para o leitor. Por isto trouxe este foco para a coluna, para mostrar esta situação por um outro contexto.
Atender mal uma pessoa, que procura o serviço da empresa onde você trabalha, é desvalorizar a própria entidade, onde o empregado presta atendimento. Atender mal outra pessoa, porque esta pessoa tem pouco estudo ou porque ela se veste de uma maneira é simples, é também preconceito. Nos dias atuais parece que só são aceitas as pessoas bonitas, bem vestidas. É claro que todos gostaríamos de passar os dias assim: lindos, cheirosos e com roupas legais. Mas a vida legal nem sempre nos oportuniza isto. Muitas vezes é preciso decidir se o dinheiro que temos irá pagar a comida da semana ou o casaco tão sonhado. Também acontece isto sobre os estudos. Existem pessoas que precisam escolher entre estudar e trabalhar para ajudar a família. Os estudos dão resultados a longo prazo. Trabalhar garante salário daqui 30 dias. E quem tem dívida precisa de salário.
Olhar alguém com uma roupa simples e fazer careta, perceber que a outra pessoa não tem conhecimento suficiente para preencher um formulário e mesmo assim não auxiliar, isto é falta de educação. Não nascemos com as mesmas oportunidades. Não vivemos com as mesmas chances na vida. Quando falamos em solidariedade e cidadania, falamos também em aceitar uma sociedade que precisa de auxílio. Roupa simples ou pouco conhecimento não faz da pessoa pouca coisa. Roupa simples e pouco conhecimento do outro é chamado para um exercício de solidariedade nosso. Por que não ajudar? Por que não auxiliar no preenchimento de um formulário? Porque estamos nos acostumando a não enxergar o outro.
Esta miopia social já tem consequências. Aumenta a fome. Aumenta a desinformação. Aumentam os golpes. Aumenta o abandono. Já não somos mais capazes de saber o que é humano, mas reconhecemos marcas de roupas. Não sabemos mais conversar, mas sabemos exigir títulos e diplomas. Educação não é matéria obrigatória nas escolas e universidades, mas é problema na vida real. O assunto merece uma revolução e o único ato revolucionário possível é cada um mudar seu comportamento no dia a dia. É assim que o mundo muda, quando a gente se transforma.