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Coluna da Paty

Patrícia Viale

A arte de tricotar

Inverno é a estação fria que dança entre o ficar quietinho e se aquecer. Passos bem sincronizados, que ousam num giro. Isto é cadência corriqueira nesta estação, que recebe a despedida do outono e antevê o frio. O Outono nos mostrou que é importante voltar a aquecer o corpo e a alma. Roupas mais quentes e uma rotina mais intimista nos convida a um acolhimento, que beira a um grande abraço. É tempo de se achegar, fechar janelas, esquentar a água para o chá. É tempo de procurar novelos de lã nas lojas e tricotar casaquinhos e meias. É tempo de amar em calor produzido.

Nas estações de aconchego é também tempo de repensar a vida e hábitos. No fechar as cortinas das janelas, para proteger a casa do frio, nos fechamos também, para o que lá fora fica. E não é somente a temperatura que despenca. Lá fora fica quem não conseguiu se achegar, se acolher. Lá fora fica quem não deu a volta nos momentos de crise. É na rua que deixamos o que nos difere.

E o que nos difere também nos recebe. Assim como no tricô, que entrelaça um fio com duas agulhas, e cria pontos, somos nós. Criamos relações e encontros que nos jogam para frente, e às vezes nos estacionam. No ato de se jogar, se faz o movimento para viver, e no estacionar se pede a pausa para a reflexão. O tricô nasce desta dança de entrelaçar e resgatar o fio.

As lojas, que vendem novelos de lã, nesta época do ano se enchem de cores, de conversas, além de sugestões de modelos e amostras de pontos. Têm quem lembrem da vó, ou da tricoteira famosa nas redes sociais. No tricotar a lã tricotamos a fala. Articulamos ideias entre vírgulas, preferências entre pausas. Esquecemos fonética e suspiramos de saudade das janelas que já foram abertas. Há quem nada se lembre, ou nada afirme neste momento, que é somente da construção dos pontos. Tecer, tricotar, produzir, vestir, ajustar. O fio de lã, ao ser tricotado, se torna um processo de construir. Uma peça, uma memória, um sentir. Assim como se escreve crônica poética no jornal, se faz ponto de poesia no coração de quem chegou ao inverno. Me convide para o próximo chá e deixe seus novelos de lã viverem. A vida pede exposição.

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