Em janeiro de 2007, meu irmão Francisco Viale, com 28 anos, sofreu um acidente de carro. Ele teve amassamento da metade do crânio, esmigalhamento da artéria carótida. Assim, o lado do cérebro que não teve dano aparente, foi prejudicado pela falta de oxigenação, devido ao estado em que ficaram as artérias. Ele precisou de 44 bolsas de sangue na cirurgia de emergência, foi reanimado várias vezes e sobreviveu. Neurologicamente, o Francisco estava condenado. O parecer dos neurologistas, que o atenderam na época, era estado vegetativo, porém os órgãos funcionavam.
O Chico ficou 63 dias em estado vegetativo, entre convulsões, quase morte cerebral, infecções e deficiência progressiva em todos os órgãos. Teve também danos na Hipófise, Hipotálamo e Corpo Pineal, glândulas endócrinas que produzem hormônios. A função central do sistema hormonal é regular e controlar o emprego dos alimentos, inclusive a digestão de alimentos sólidos, a ingestão e uso de Oxigênio e o metabolismo e equilíbrio dos carboidratos, gorduras, proteínas, sais minerais e água. Estas funções resultam no desenvolvimento do corpo, manutenção da vitalidade e capacidade de reprodução e manutenção da espécie. Ou seja, ele não produzia mais hormônios para regular o organismo. A solução (ou tratamento) encontrada pelos médicos era a injeção diária de hormônios. Mas aquela situação era totalmente inviável.
Próximo de completar sessenta dias de coma e nenhuma alteração positiva no quadro, os médicos se juntaram e apresentaram o quadro à família. Eles iriam parar o tal tratamento e precisavam da nossa autorização. Nos olhamos e assinamos a autorização, que encerrava aquele tratamento. O Francisco estava numa UTI, no Hospital da Unimed, em Caxias. Seu quadro era terminal. Os médicos autorizaram a transferência dele para o Hospital de Canela e em menos de 48 horas, da sua chegada, faleceu.
Francisco era um caso condenado, desde o momento em que o atenderam na emergência do HPS de Canoas, mas por questões éticas, os médicos da emergência tiveram que reanimá-lo. Para a ciência, este caso foi uma experiência a mais. Para a família foi um pesadelo bem doloroso, mas muito significativo. Nestes 63 dias aprendemos que a vida continua quando praticamos solidariedade. O Junho é Vermelho. Doe sangue!.