Cacique Maurício, da etnia Kaingang, tem como fala no seu dia a dia reconhecer Canela, Gramado e São Francisco de Paula como terra indígena. “Precisamos trabalhar em conjunto com parcerias e entidades para trabalhar a reivindicação da nossa terra”, afirma Maurício.
Proteger as matas nativas é um estilo de vida, que também pode ser a garantia de futuro para toda a região. “Estamos projetando a comunidade para um turismo sustentável, para que pudéssemos trabalhar nesta área. Podemos apresentar um turismo natural aqui onde moramos”, afirma Maurício.
Atualmente a aldeia é composta por mais de 60 pessoas, cerca de 16 famílias. O líder indígena pensa na qualificação profissional dos rapazes da aldeia, para que possam trabalhar como condutores e orientadores de trilhas dentro da área da Flona Canela. “Mas antes precisamos buscar a retomada das nossas terras e estamos batalhando por isto”, completa o Cacique.
“Este mês, abril, é importante para os povos indígenas, mas aqui não temos o que comemorar. A gente carrega uma história de dor, com um aspecto negativo, o conflito que tivemos aqui na região, a perda de muitos parentes nas batalhas ocorridas nestas terras. Para nós é momento de reflexão. Celebramos por estarmos vivos e por estarmos aqui lutando e estamos mostrando isto, mostrando a nossa identidade e dizendo que queremos o nosso território. Então este mês é importante, mas não pode ser somente este mês. Precisamos batalhar e refletir todos os meses do ano, todos os dias. Estamos aqui como solução e não como problema”, conclui Maurício.
Em fevereiro deste ano aconteceu uma audiência de conciliação entre o ICMBio e as Comunidades Xokleng e Kaingang. Assim foram reconhecidas as Florestas Nacionais de São Chico e Canela (FLONA) como parte do território ancestral e os povos Xokleng e Kaingang como população tradicional inserida dentro de Unidade de Conservação.
A minuta dos acordos e o território indígena foi legitimada e aprovada, com detalhes do uso compartilhado do território e localização da futura aldeia. O acordo foi construído em oficina nas respectivas aldeias, com a presença da comunidade indígena, universidades, apoiadores, membros da FUNAI E ICMBio além do GT de pesquisa que fará o relatório técnico necessário para demarcação.
Foto de Amallia Brandolff